Curadoria de Tecnologia e Inovação
Por Letícia Arruda
A diplomacia entre China e Estados Unidos vem passando por momentos de tensão, ensejando, possivelmente, em um dos maiores conflitos da década. Em matéria publicada na Cointimes, foi publicado um alerta, especulando que tais países já estejam encaminhados para uma nova guerra fria, cujo alvo principal é a soberania da informação e tecnologia. No entanto, é necessário analisar as particularidades de tal conflito, pois a ideia de um novo combate não parece se alinhar com as diretrizes da diplomacia Chinesa.
Durante séculos aqueles que dominassem as técnicas de cultivo e defesa, estariam no caminho certo para prosperidade, na China antiga ter um exército numeroso e um mercado de commodities fortalecido era suficiente para “paz confuciana”. Porém, em 1945 no fim da segunda guerra mundial, houve uma importante mudança de paradigma no globo, visto que a ideia de uma sociedade agraria foi vista como arcaica e o foco passou a ser o domínio da tecnologia, pois uma máquina decodificadora de sinais, criada pelo inglês Alan Turing, havia sido a peça fundamental para vitória dos Aliados no conflito.
Assim, o foco pela criação de novos mecanismos de controle tecnológico, se tornou uma pauta imprescindível para as grandes potenciais, em especial os Estados unidos e Rússia, que protagonizaram por quatro décadas uma guerra fria, na qual as ameaças giravam em torno da tecnologia de bombas nucleares, com a capacidade de dizimar Estados em apenas um clique.
Nesse momento a China estava completamente alheia a este cenário, basta lembrar que esta era totalmente fechada para o mundo economicamente até 1976, somente após a morte do líder Mao Tse- Tung e com a chegada de Deng Xiaoping, em 1979 ocorreu oficialmente o período das “quatro modernizações” cujo foco era em desenvolver a China nas áreas de agricultura, indústria, defesa nacional, ciência/tecnologia.
O resultado desta transformação ensejou no chamado boom chinês, nos anos de 1993 e 1994, o socialismo capitalista da China produziu o estrondoso crescimento econômico de 13% e desde então, o gigante asiático seguiu caminhando para se tornar uma das principais potências mundiais.
Finalmente em 2020, a China ocupou a posição de país com mais bilionários do mundo. Título que antes era dos Estados Unidos, este fato fomentou para a criação de uma relação delicada com os americanos, na corrida pela liderança global. Para agravar esse cenário, a gigante asiática Huawei, se tornou pioneira no domínio da tecnologia 5G, em estudo realizado nas 15 principais cidades do mundo, foi constatado que a empresa Chinesa é a fornecedora da velocidade mais rápida, quando comparada com suas concorrentes norte americanas.
Em entrevista à revista Com Ciência, a doutora Patrícia Borelli declarou “O embate entre esses dois países possui um pano de fundo histórico que data do início do plano de modernização da China. “A partir dos anos 1970, a China começou a ter projetos autônomos que visavam à modernização do país. Esses projetos, principalmente no campo da tecnologia, de algum modo sempre bateram de frente com o modus operandi do sistema internacional, principalmente em termos, por exemplo, de propriedade intelectual e desenvolvimento de padrões tecnológicos”, explica Borelli.
Como estratégia para desmoralizar a China, o ex-presidente americano Donald Trump começou a emitir alertas para o mundo sobre uma possível ameaça a ordem mundial, caso a China se consolide como maior potência mundial. A situação ficou tão delicada que o então presidente americano chegou a afirmar que a pandemia do Corona vírus e consequente sofrimento do mundo foi causado pela China, sem que houvesse quaisquer provas concretas que sustentassem tal argumento.
Na esfera privada o caso TiK Tok versus Instagram, vem ganhando destaque na mídia, especialmente por ilustrar como uma multinacional Chinesa e Americana conseguem capitalizar para si quase todo contingente de usuários de redes sociais do mundo. Difundindo de maneira sutil os valores culturais e sociais destas nações, fazendo com que o mundo esteja cada vez mais dependente da tecnologia destes.
Mas afinal, esta situação fática é suficiente para afirmar que estamos caminhando em direção a uma nova guerra fria? Apesar do grande destaque que a China e Estados Unidos vem ganhando no mundo pela promessa de um novo conflito catastrófico entre as duas potencias, em 2021 o governo Chines emitiu um relatório de trabalho apresentado na 4ª sessão anual da 13ª Assembleia Popular Nacional, onde o primeiro-ministro chinês Li Keqiang afirmou: “Trabalharemos ativamente para desenvolver parcerias globais e promover a construção de um novo tipo de relações internacionais e uma comunidade de futuro compartilhado. Continuaremos a seguir a política de abertura e cooperação e trabalharemos para tornar o sistema de governança global mais justo e equitativo. Enaltecendo uma diplomacia não bélica, cujo objetivo é caminhar para uma rede de cooperação internacional.
Nos Estados Unidos, o novo presidente o Democrata Joe Biden continua a tecer duras críticas a China, especialmente em questões envolvendo propriedade intelectual, legislação trabalhista e concorrencial desleal. No entanto, em junho de 2021 durante a reunião do G7, cujo foco foi debater a pandemia do COVID-19, o presidente americano emitiu uma declaração “saem as guerras tarifarias e entram as doações e empréstimos, se o país asiático avança com a exportação de vacina, as democracias contra-atacam com doação de imunizantes sem contrapartida”. Evidenciando que apesar da disputa entre as duas potencias, o caminho a ser adotado pelo país vai na contramão do argumento bélico utilizado pelo ex-líder americano.
Desse modo, observando a postura destes países atualmente, é difícil imaginar que estejamos caminhando para um cenário de guerra fria, o que não significa dizer que Estados Unidos e China não protagonizarão a disputa pela liderança tecnológica global.
Fontes:
http://www.chinahoje.net/diplomacia-chinesa-promove-uma-comunidade-humana-
de-futuro-compartilhado/
(acesso 02/07 de 2021).
https://cointimes.com.br/china-ameaca-eua-com-guerra-tecnologica/
(acesso 02/07 de 2021).
https://www.infopedia.pt/$china-modernizacao-e-abertura-a-economia-de
(acesso 03/07 de 2021).
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/06/biden-obtem-do-g7-comunicado-
mais-duro-sobre-a-china.shtml
(acesso 03/07 de 2021).
Leave a Reply