Cinedebate | Curadoria de Assuntos do Japão
Redação e comentário crítico: Jéssica Nascimento (jessica.mnsilva@ufpe.br)
Revisão linguística: Douglas Pastrello (douglas@pastrello.net)
Desde o dia 09 de abril, o Instituto Moreira Salles, em São Paulo, tem sido o palco da mostra “Daido Moriyama: uma retrospectiva”. O fotógrafo, nascido em Osaka, é um dos principais nomes da fotografia contemporânea mundial e parte das suas obras pode ser conferida nas Galerias 1 e 2 do IMS Paulista até o dia 14 de agosto.
Mas afinal, quem é Daido Moriyama? O fotógrafo nipônico, nascido em 1938, iniciou sua carreira durante o Japão pós-guerra e, segundo Thyago Nogueira curador da exposição -, tornou-se o ícone pop mais influente da fotografia japonesa. Servem de inspiração para o seu trabalho artistas como Andy Warhol, Jack Kerouac e William Klein. Semelhante a Warhol, que entendia a reprodutibilidade dos objetos como algo inerente à sociedade capitalista que se faz presente na segunda metade do século XX, Moriyama faz da repetição algo fundamental para o seu processo de compreensão da imagem. Como “filho” de um país ocupado pelos Estados Unidos, o artista fez das transformações do Japão um dos grandes temas do seu trabalho. Além disso, aliou-se ao pensamento de que a fotografia deveria ser acessível a todos, atingindo a população de maneira efetiva, e não apenas permanecendo num lugar de objeto sagrado dentro das galerias e museus.
Suas fotos em preto e branco, desfocadas, com alto contraste e aparência granulada criam uma estética facilmente identificada – o estilo “are-bure-boke” – e buscam, intencionalmente, a imperfeição, sempre carregadas de uma atmosfera soturna, que parece colocar em foco o que seria banal aos olhares mais desatentos. As lentes de Daido Moriyama parecem descortinar o mundo, revelando os gestos das pequenas coisas, os movimentos do cotidiano e sensações das memórias frívolas, como podemos perceber nas figuras 2, 3 e 4.
Moriyama compõe os seus quadros de uma maneira que une a poesia e o fotojornalismo, registrando cenários banais com um olhar sensível, que parece atribuir um lugar de mito aos personagens comuns que cruzam seu caminho. Apesar da importância que a reprodutibilidade tem no seu trabalho, é possível experienciar o singular e o extraordinário através da sugestão de uma resignificação e de um deslocamento do olhar.
Com curadoria de Thyago Nogueira, a mostra é resultado de uma extensa pesquisa de mais de 3 anos. Além disso, ele teve acesso inédito ao arquivo do fotógrafo, o que resultou em um passeio que atravessa os diferentes momentos da carreira vasta e próspera de Moriyama. Na exposição, que ocupa dois andares do IMS Paulista e apresenta mais de 200 obras, é possível conferir imagens que expressam interesses que vão desde a ocupação americana ao teatro experimental dos anos 60, além dos trabalhos radicais dos anos 70, seu período autorreflexivo dos anos 80 e 90, a documentação das cidades e a reinvenção do seu próprio arquivo. Além de obras emolduradas, a exposição traz também revistas e livros que destacam a importante relação do artista com a indústria editorial. Entre tantos interesses, o artista também dedicou parte do seu portfólio à fotografias coloridas, que mesmo em tons diferentes do habitual expressam o seu olhar atento e sensível.
A proporção gigantesca dessa exposição é tão expressiva quanto a própria obra do fotógrafo, que pode ser considerado um dos que mais produziu imagens no mundo, de acordo com o curador Thyago Nogueira. Essa extensa produção é fruto de uma ação constante de Moriyama, que costuma sair pelas ruas fotografando os locais por onde passa.
Informações sobre os horários e protocolos de visitação podem ser encontradas no site do Instituto. https://ims.com.br/exposicao/daido-moriyama-uma-
retrospectiva_ims-paulista/
Quer saber um pouco mais sobre a exposição e o seu processo curatorial?
Assista ao vídeo com o curador Thyago Nogueira:
https://www.youtube.com/watch?v=cIK7XCxB0z0&t=243s
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