Curadoria de Coreia do Sul
Notícia traduzida por: Inês Maria e Kelly Silva
A introdução das redes sociais e o desenvolvimento constante das formas de comunicação atrelado à tecnologia, trouxeram espaços de atuação cada vez mais amplos e permitiram uma conexão facilitada e mais rápida. No entanto, houveram, também, efeitos colaterais negativos diante dessa nova realidade. É nesse quesito que insere-se o cyberbullying (violência virtual), no qual, de acordo com a definição do pesquisador Bill Belsey (2004), o agressor utiliza-se da informação e comunicação no ambiente virtual para hostilizar um grupo ou um indivíduo.
Essa questão vem se tornando cada vez mais alarmante na Coreia do Sul, e diante desse cenário há a discussão sobre a implementação de políticas públicas no país com o intuito de evitar as consequências trágicas dessa prática. De estrelas do K-pop a jogadores, figuras conhecidas no país chamam a atenção para o desfecho que a perseguição e a violência do cyberbullying traz às vítimas. O ambiente tóxico na internet foi responsável pelo fim da vida de diversas celebridades coreanas ao longo dos anos, e devido aos casos desenfreados a South Korea National Information Society Agency vem contabilizando dados referentes ao cyberbullying desde 2014.
Com a alta nos números de suicídios ocasionados pelo cyberbullying, a questão traz à tona a necessidade de medidas que condenem a prática. A facilidade da circulação de dados e anonimato no ambiente virtual trazem a sensação de impunidade para os agressores que seguem compartilhando e atraindo ódio através de comentários, acreditando que estão bem protegidos atrás de computadores e smartphones. O comportamento tóxico acobertado pelo anonimato é uma pauta na discussão de medidas de transparência anti cyberbullying na Coreia do Sul. Em 2003, o Ministério da Informação e Comunicação promoveu a introdução gradual do sistema de nomes reais em todos os boletins da Internet, a medida foi implementada parcialmente apenas em 2007. No sistema de nomes reais os usuários precisam fornecer seu nome legal e credenciais de identificação para que a identidade do usuário esteja disponível à autoridades legais para uso em investigações criminais. No entanto, em 2012, o Tribunal Constitucional decidiu que o sistema de nomes reais da Internet violava não apenas a ‘liberdade de expressão’ garantida pela Constituição, mas também a ‘liberdade de imprensa’.
Após o sucídio da estrela do K-pop Sulli em 2019, vítima de cyberbullying, um projeto de lei a favor do retorno do sistema de nomes reais foi apresentado, porém não foi aprovado. Apesar do sistema de nomes reais proposto anteriormente ser considerado inconstitucional, a discussão sobre esse fator ainda está aberta na Assembleia Nacional. Park Dae-dae, membro da Força Popular do Povo, introduziu a proposta de um sistema de internet de nome semi-real na 21ª Assembleia Nacional. Além disso, o legislador do Partido Democrata Jeon Jeon-gi propôs uma emenda parcial à Lei de Rede de Informação e Comunicações, que inclui punições mais rígidas para comentários maliciosos. Outras medidas como a exclusão da seção de comentários em plataformas online do país, como o Naver Celebrity News, incorporam parte das campanhas atuais de prevenção e combate ao cyberbullying.
Considerando a crise de cyberbullying, a opinião pública segue o apelo pela efetivação de medidas que solucionem o problema enquanto os casos de suicídio continuam tomando as notícias.
A notícia a seguir é do The Guardian, foi traduzida do inglês pela Curadoria Coreia do Sul do CEASIA.
A Coreia do Sul está sendo pressionado a combater o cyberbullying após morte de famosos
Autor: Justin McCurry
Cidade: Tokyo
Data: 9 de fevereiro de 2022
A morte de duas celebridades em fevereiro levou a um abaixo-assinado solicitando ao presidente punições mais severas para aqueles que postam comentários de ódio online.
O governo sul coreano está sendo pressionado a combater o cyberbullying após o suicídio de um atleta e uma youtuber que sofreram ataques maliciosos na internet. Kim In-hyeok, jogador profissional de vôlei, foi encontrado morto na sua casa um dia antes da morte de Cho Jang-min, uma streamer famosa que era conhecida como BJ Jammi. Kim recebeu inúmeros comentários de ódio sobre sua aparência e especulações sobre sua orientação sexual, ele possuía 27 anos e jogava pelo DaeJeon Samsung Fire Bluefang. De acordo com a agência de notícias sul coreana Yonhap, ele supostamente deixou uma carta contendo reflexões pessimistas sobre sua vida.
Cho, uma youtuber que também possuía uma quantidade grande de seguidores na Twitch, uma plataforma de streaming de jogos, estava sofrendo de depressão enquanto recebia a mais de dois anos comentários sexualmente depreciativos e acusações de que ela odiava homens, segundo uma publicação de um dos membros da família dela nas redes sociais. A morte dela provocou pedidos para punições mais severas contra outros youtubers e comentaristas que postaram rumores e comentários de ódio direcionados a Cho, que também tinha 27 anos.Um abaixo assinado no site presidencial da Casa Azul alcançou mais de 150.000 assinaturas.
Embora o alcance internacional do kpop seja frequentemente uma causa de celebração, internamente a combinação de obsessão pelas celebridades juntamente com o aumento da conectividade digital têm sido apontados como a causa do número de suicídios entre celebridades recentemente.
O suicídio da cantora Sulli , em 2019, gerou indignação diante a falha da agência em proteger seus artistas de “fãs tóxicos” e demandou ações do governo contra o bullying em portais famosos na internet onde os usuários são capazes de comentar anonimamente. A morte dela fez com que portais como Naver e Daum fechassem a seção de comentários em matérias de esporte e entretenimento, mas os casos de violência virtual continuam sendo um problema em redes sociais como YouTube e Instagram.
“Mais pessoas estão sofrendo de depressão e transtornos mentais por causa do discurso de ódio online. É um problema que pode destruir a vida da pessoa”, disse Kim Tae-yeon, um advogado especializado em difamação e casos de cyberbullying, consultado pela Yonhap.
Os cyberbullies que atacavam as vítimas em sites sul-coreanos simplesmente se mudaram para redes sociais globais sabendo que é difícil identificá-los. Consequentemente, a polícia está tendo dificuldades para realizar os processos legais apesar do aumento de casos denunciados. “Mesmo se os agressores forem pegos, eles geralmente acabam tendo punições leves, como multas”, disse o advogado.
Kim In-hyeok denunciou publicamente os ataques que recebia, comentou sobre a especulação da sua orientação sexual e o uso de produtos de beleza. “Eu nunca usei maquiagem, eu não gosto de garotos, eu tive uma namorada e nunca participei em filmes adultos”, ele publicou em sua conta no instagram em agosto de 2021. “Pessoas que não me conhecem me enviam inúmeras mensagens e postam comentários maldosos toda vez que eu jogo. É difícil ter que lidar com tudo isso. Por favor, pare”.
Em 2019, Cho foi acusada de fazer um gesto que indicava que ela odiava homens em um dos seus vídeos, sua mãe que monitorava os comentários cometeu suicídio logo após, de acordo com relatos.
Referências
BAUMAN, Sheri. Cyberbullying: A virtual Menace. National Coalition Against Bullying National Conference , [S. l.], 2 dez. 2007. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Sheri-Bauman/publication/265937264_Cyberbullying_a_Virtual_Menace/links/553e25b10cf2522f1835efc3/Cyberbullying-a-Virtual-Menace.pdf. Acesso em: 27 fev. 2022.
LIM, Jason. Sulli’s law. The Korea Times, 25 out. 2019. Opinião. Disponível em :
http://www.koreatimes.co.kr/www/nation/2019/10/352_277559.html. Acesso em: 25 fev. 2022.
SOUTH Korea set to introduce cyberbullying laws in the wake of k-pop suicides . The Cybersmile Foundation.. [S. l.].Disponível em:
https://www.cybersmile.org/news/south-korea-set-to-introduce-cyberbullying-laws-in-the-wake-of-k-pop-suicides. Acesso em: 25 fev. 2022.
김판. ‘그녀’ 이후에도 ‘악플’에 여럿 숨졌다… ‘설리법’ 언제쯤. [S. l.], 7 fev. 2022. Disponível em: http://m.kmib.co.kr/view.asp?arcid=0924230401&code=11131100&cp=nv. Acesso em: 26 fev. 2022.
정아임. “설리법 만들어주세요”…‘위헌 결정‘ 댓글 실명제 재도입 힘받나. [S. l.], 15 out. 2019. Disponível em: https://m.sedaily.com/NewsVIew/1VPJ6YTVAP#cb. Acesso em: 27 fev. 2022.
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