Escrita por Rafael Cavalcanti Lemos, a série de textos “Pernambuco e o Japão”, promete através de textos breves, traçar uma interessante aproximação entre o País do Sol Nascente e esse famoso estado Nordestino.
A série é composta por 3 textos, os quais já foram publicados no Jornal O Diário de Pernambuco na seção Opinião, e tratam dos seguintes temas: A embaixada brasileira em Tóquio, a migração japonesa no Brasil e a importância do escritor recifense Oliveira Lima nas relações Brasil-Japão; uma aproximação entre a língua falada pelos fulniôs, uma das poucas línguas nativas ainda existentes no nordeste, o iantês, e os japonês; e, por fim, a apreensão do baião, ritmo característico do nordeste, pelo Japão, através do baião Japonês de Keiko Ikuta.
Intitulado “O baião japonês de Keiko Ikuta”, o último texto da série nos conta como esse gênero de música e dança popular da região nordeste foi apreendido pelos japoneses e também nos traz a tradução da “Tokyo baião” gravada por Keiko Ikuta.

Texto por: Rafael Cavalcanti Lemos, Juiz de Direito do Tribunal de Justiça de Pernambuco) e membro da Curadoria de Assuntos do Japão.
Colagem: Assucena Maria (assucena.ms@hotmail.com)
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Antes de que o Rio de Janeiro exportasse brasilidade com a bossa-nova, um ritmo permeado pelas novenas do sertão araripense pernambucano, descendente instrumental da chula portuguesa e personificado num carismático e exótico (aos olhos do restante País) filho de Exu representava musicalmente o Brasil, surpreendendo e embalando o mundo.
Popularizado por Luiz Gonzaga, o baião atingiu diversas nações, dentre elas a japonesa, que o cantou vernacularmente nos anos 1950 na voz de Keiko Ikuta em versões de Kikuo Furuno (gravadas em nossa então carioca capital) para “Paraíba” (nos 2000 também na voz de Miho Hatori) e “Baião de dois”.
Um dos fundadores da paulistana e sexagenária Aliança Cultural Brasil-Japão, Furuno, em parceria com o cearense Humberto Teixeira, chegou inclusive a compor um “Tokyo Baião”, pela mesma intérprete cantado. (A título de curiosidade não relacionada, uma freguesia de nome Teixeira integrava até 2013 o município português de Baião.)
Bem sabidas na língua original as demais canções, dá-se a conhecer em português (possivelmente pela primeira vez) apenas a última (canção), “texto poético” – esclarece a tradutora, Emi Sugahara:
Sobre “as mulheres que trabalham em casas noturnas em Ginza”: “Mesmo com a chegada da primavera ou do verão / Ginza sempre com o seu neon vermelho / E com o sussurro de um doce som do violão / Lembrança de acácias balançando suavemente / Estes são os impulsos do amor neste momento / Baião de Tóquio. // Esconde nos cílios falsos uma lágrima / São como cardos que floresceram na noite de Ginza / A luz fraca no peitoril da janela / O vestido roxo brilha instantaneamente / Os sonhos são tristes estrelas cadentes / Baião de Tóquio. // Tanto o neon vermelho como o neon azul / São sinais do amor de Ginza que dança / Para a névoa de tristeza do lugar / Sinto o aroma das lembranças do cardo / Vida frágil da flor da noite / Baião de Tóquio.”. Ginza é um distrito de Chuo, região especial da metrópole de Tóquio.
Como prova de vitalidade do ritmo, agora sob o rótulo amplo de “world music”, foi lançada, em 25 de outubro de 2019, por Adriana Sanchez e a oquinauana banda Begin, versão japonesa (cantada em seguida à letra original) do clássico teixeiro-gonzaguiano “Baião” nas plataformas digitais Spotify, Apple Music, iTunes e Deezer.
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