Faleceu ontem o Professor Francisco Roberto Caporal, da Universidade Federal Rural de
Pernambuco e que vai deixar um grande vazio, para seus familiares, amigos e colegas.
Um ser humano profundamente identificado com os camponeses e com a lutas do
campo, não apenas no Brasil, mas em escala mundial.
Doutor Engenheiro Agrônomo, pela Universidad de Córdoba – Espanha (1998), no
curso de Doutorado em Agroecologia Campesina e Historia, do Instituto de Sociología y
Estudios Campesinos, tendo recebido nota máxima “Sobresaliente cum laude”. Mestre
em Extensão Rural, pela Universidade Federal de Santa Maria (1991) e graduado em
Agronomia, pela Universidade Federal de Santa Maria (1975).
Mais recentemente exercia as funções de Professor Adjunto da Universidade Federal
Rural de Pernambuco, junto ao Departamento de Educação, dando aulas na disciplina
de Extensão Rural. Membro do Núcleo de Agroecologia e Campesinato – NAC/UFRPE.
Caporal ocupou os cargos de Diretor Técnico da EMATER-RS, de 1999 a 2002, de
Diretor Substituto do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (DATER) e
Coordenador Geral de Ater e Educação, no mesmo Departamento da Secretaria da
Agricultura Familiar, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, de 2004 a 2010. De
2006 a 2010, foi presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-
Agroecologia) área em que se destacou
Sua experiência na área de Agronomia, com ênfase em Assistência Técnica e Extensão
Rural, permitiu que atuasse principalmente nos seguintes temas: Assistência Técnica e
Extensão Rural, Desenvolvimento Rural Sustentável, Agroecologia, Meio Ambiente e
Agricultura Familiar, Formação de Agentes de Extensão Rural.
Foi Professor convidado da Universidad de Córdoba (ES), Universidad Pablo de Olavide
(Sevilla-ES) e Universidad Internacional de Andalucía (ES), no Programa
Interuniversitário Oficial de Posgrado, no curso de Maestría em Agroecología: un
enfoque sustentable de la agricultura ecológica. Foi Membro da equipe de professores
do Programa de Doutorado “Medio Ambiente y Sociedad”, da Universidad Pablo de
Olavide, Sevilla, (ES). Professor permanente do Programa de Pós-graduação em
Agroecologia e Desenvolvimento Territorial. Coordenador da RádioWeb Agroecologia.
Francisco Roberto Caporal deixa uma vasta produção intelectual, muitas das quais
escrita em parceria com seu colega José Antonio CostaBeber, Assessor técnico da
Emater/RS. Poderia citar aqui o livro Agroecologia: alguns conceitos e princípios
(2000); ou ainda Agroecologia e sustentabilidade: base conceptual para uma nova
Extensão Rural. Em 2015, coordenou o livro Extensão Rural e Agroecologia: para um
novo desenvolvimento rural, necessário e possível, com maioria de artigos seus.
No ano passado, me presenteou seu último livro, publicado na coleção Advances in
Agroecology, pela editora CRC Boston. Um livro escrito a oito mãos e intitulado
Political Agroecology. Advancing the Transition to Sustainable Food Systems.
Neste livro, já na Introdução, encontramos: “Do ponto de vista biofísico, a
industrialização da agricultura levou a uma reconfiguração fundamental da produção
agrícola e da forma como o nosso consumo endossomático é satisfeito. A possibilidade
de injetar grandes quantidades de energia e materiais oferecidos pelo petróleo e suas
tecnologias associadas mudou radicalmente o cenário agrícola mundial durante o
século XX”.
Ainda segundo os autores, de 1961 a 2016, a produção mundial de cereais multiplicou por quatro, superando a correpondente taxa de crescimento da
população global, e a disponibilidade de cereais per capita cresceu 60% como
decorrência, no dizer da FAO.
Em que pesem estes esforços de alta produtividade, dizem os autores “a pobreza rural,
a fome, e a mánutrição endêmica continua a existir”. E sintetizam: “A FAO estimou
em mais de 825 milhões de pessoas no mundo que são vitimas de fome (…) O
dominante regime alimentar é incapaz hoje de alimentar toda a humanidade” 1 .
Alguns dos capítulos deste livro já evidencia sua importância, a exemplo do cap.3
“Um regime que caminha para o colapso”, e os subsequentes que apresentam
soluções: “Estruturas cognitivas e desenho institucional para uma transição
agroecológica (cap.4)”.”Dimensionando a Agroecologia (cap.5”). “Os agentes da
Transição Agroecológica” (cap6.) e finalmente,”O papel do Estado e das Políticas
Públicas( Cap.7).
Recentemente, Caporal nos brindou com um artigo, “ Agroecologia: redesenhando
sistemas agroalimentares mais sustentáveis” para um livro publicado pelo Instituto
de Estudos da Ásia, que organizei com Eduardo Oliveira, em 2019: Estrangeirização
de Terras e Segurança Alimentar e Nutricional, Brasil e China em Perspectiva.
Neste artigo, cita Paulo Freire a quem incorporava: “os cientistas não tem sido
verdadeiramente capazes de ouvir o que os agricultores tem a dizer, porque as
premissas filosóficas da ciência convencional não conferem legitimidade aos
conhecimentos e às formas de aprendizagem dos agricultores” (Caporal, R,
2019:253)
Para concluir, umas poucas palavras sobre a sua generosidade, um intelectual
afável, bem humorado, mas com grande capacidade de indignação contra as
injustiças sociais, que sempre atendia aos movimentos sociais para refletir sobre
seus desafios e das possibilidades de superação em um país tão desigual como o
nosso.
Descanse em paz, amigo e obrigado por sua luta, vai fazer muita falta. Sua obra
permanece.
Por Marcos Costa Lima.
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