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NOTÍCIA | Após quatro anos, a princesa Mako e seu noivo Kei Komuro devem casar-se neste ano

Curadoria Assuntos do Japão.

Redação e comentário crítico: Camila de Sousa Machado (camila.machado712@gmail.com / @mila.smachado). Revisão Linguística: Maria Gabriela Pedrosa (mariagpedrosa@gmail.com/ @maria.gwpedrosa)

Diferente dos contos de fadas, se casar com um plebeu sendo membro da realeza não é tão simples. Contudo, a longa espera da princesa Mako e seu noivo Kei Komuro parece estar chegando ao seu final “feliz”. Após diversos adiamentos, fontes do governo anunciaram que o casamento acontecerá no dia 24 de outubro. De acordo com o jornal Asahi Shimbun, a sobrinha do imperador Naruhito se casará fora dos moldes tradicionais, além de renunciar ao dote de 152,5 milhões de ienes (cerca de 7,2 milhões de reais).

Mako de Akishino será a primeira princesa dos tempos modernos a não se casar pelo rito xintoísta, liturgia que inclui o Nosai no Gi – uma cerimônia oficial de noivado na qual as famílias dos noivos trocam presentes – e o Choken no Gi, um encontro oficial com o Imperador e a Imperatriz antes do casamento. A princesa realizará seu casamento em solo nacional e se mudará para Nova York, onde seu noivo reside desde de 2018.

Juntos desde de 2012 e noivos desde 2013, o casal vem ocupando as manchetes desde que anunciaram publicamente seu noivado, em 2017. Inicialmente, o casamento estava previsto para novembro de 2018, mas a opinião pública japonesa (contra a união) e a suposta dívida de 4,3 milhões de ienes da mãe de Komuro ao ex-marido, para financiar os estudos do filho, levaram o Palácio a cancelar o casamento até que tudo fosse esclarecido.

Após oito anos, mesmo com tantos empecilhos, o casal segue determinado a finalmente construir suas vidas juntos. “Para nós, o casamento é uma escolha necessária para viver e honrar nossos corações….Somos insubstituíveis um para o outro e aprendemos a nos apoiar em tempos felizes e infelizes”, disse Mako de acordo com publicação do The Time of London. Esses contínuos obstáculos e a rejeição de seu namoro com Komuro, em certos segmentos da população e da realeza, levaram Mako a tornar público seu desejo de não receber o dote de 152,5 milhões de ienes. Atualmente, a lei imperial estabelece que as mulheres que se casam com plebeus têm garantido um valor, custeado com o dinheiro dos contribuintes, a fim de manter a dignidade de um ex-membro da família imperial. O montante é determinado pelo Conselho Econômico da Casa Imperial, que inclui, entre outros membros de alta linhagem, o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga

O casamento também reacendeu as discussões sobre o futuro da família Imperial. As retrógradas leis da Casa Imperial, estabelecidas no final do século XIX, decretam que apenas os descendentes do sexo masculino da linhagem paterna podem ascender ao trono. Além disso, essa lei, que ainda está em vigor, determina que as mulheres que se casam com plebeus perdem seus status reais, entretanto, o inverso não ocorre. Antes dessa lei, o Japão já teve oito imperatrizes, com a última ocupando o trono no século XVIII

Logo após o anúncio do noivado, um painel consultivo foi formado para discutir se membros do sexo feminino podem acender ao trono e se devem permanecer na família imperial após se casarem com plebeus. Em ata de julho deste ano, todos os seis membros, a princípio, concordam que não deve ser concedido status imperial aos cônjuges e filhos de mulheres que são membros imperiais. Um relatório provisório informa que os membros do painel consentiram em manter o atual status de sucessão. Ainda não foi decidido se as mulheres devem ou não abandonar seus status ao se casarem com plebeus e sobre a possível adoção de herdeiros homens de outros ramos da Família Imperial.

A população japonesa, porém, parece ter uma visão diferente de seus líderes. Uma pesquisa realizada pela Kyodo News, entre março e abril deste ano, mostra que 87% dos entrevistados se mostraram a favor do Japão ter uma mulher como Imperatriz. A pesquisa foi conduzida em território nacional com 3 mil pessoas, tendo 1.839 respostas válidas, 52% dos entrevistados apoiam e 35% apoiam parcialmente, chegando a um número absoluto de 87%. Apesar do amplo apoio público, existe uma forte oposição da ideia entre acadêmicos e legisladores conservadores, incluindo membros do Partido Liberal Democrata do qual o ex-primeiro-ministro Yoshihide Suga faz parte.  

As regras sucessórias em vigor, antiquadas, ameaçam o futuro da Família Imperial que, no momento, tem apenas três homens na linha de sucessão: o príncipe Hisahito de 14 anos, príncipe Fumihito de 55 anos e o príncipe Masahito de 85 anos. Atualmente, dos 18 membros da família imperial, 13 são mulheres. Mesmo sendo a maioria, as elites optam por depositar as esperanças da manutenção de seus privilégios no homem mais novo da família, o príncipe Hisahito.


REFERÊNCIAS:

KYODO. Princess Mako and Kei Komuro look to register for marriage in October. Disponível em: https://www.japantimes.co.jp/news/2021/09/09/national/princess-mako-october/. Acesso em: 12/09/2021.

KYODO. Japanese panel eyes imperial status for females but not commoner husbands. Disponível em: https://www.japantimes.co.jp/news/2021/08/07/national/imperial-family-panel-commoners/ Acesso em: 12/09/2021.

KYODO. 80% of Japanese support a reigning empress as pool of heirs shrinks. Disponível em: https://www.japantimes.co.jp/news/2021/05/01/national/females-imperial-family-survey/ . Acesso em: 20/09/2021.

NOYEN, Maria. Princess Mako of Japan will reject a $1.3 million dollar payout when she weds her ‘commoner’ college sweetheart. 2 de setembro de 2021. Disponível em: https://www.insider.com/princess-mako-will-reject-wedding-payment-to-marry-college-sweetheart-2021-9. Acesso em: 12/09/2021.

SHERWEEL, Philip; SHOUTA, Ushio. Japan’s empress strikes to end romance of ‘naive’ Princess Mako. Disponivel em: https://www.thetimes.co.uk/article/japans-empress-strikes-to-end-romance-of-naive-princessmako-hrvjq5hhd Acesso em: 12/09/2021.

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