Figura 1: entrada da Biblioteca Jovens do Pinhal (SP). Foto: Portal G1, Globo.
Redação e comentário crítico: Maria Gabriela Pedrosa (mariagpedrosa@gmail.com/ @maria.gwpedrosa)
Revisão linguística: Suéllen Gentil (suellen.gentil@gmail.com/ @suellengentil)
Os primeiros imigrantes começaram a se instalar no bairro do Pinhal, zona rural de São Miguel Arcanjo (SP), no início da década de 60. No final da década seguinte, um homem chamado Tetsuhito Amano, apaixonado pelo Brasil e sua cultura, chega à colônia de Pinhal ao saber que era um local prolífico para o cultivo de uvas. Além do plantio de uvas, o sr. Amano trouxe do Japão o desejo de abrir uma biblioteca, o que o impulsionou a construir a Biblioteca dos Jovens do Pinhal, a qual, atualmente, é o maior acervo de livros sobre cultura japonesa do Brasil.
A obra começou a ser construída em 1978 e só findou em 1985. A maioria dos livros e itens são doações vindas diretamente do Japão e que chegaram ao Brasil por meio de um contêiner, em 1985. Esse espaço guarda mais de 70 mil obras de temáticas diferentes, tais como: turismo, artes, arquitetura, religião, biografias, romances e mangás, os quais compõem 70% do acervo, segundo o administrador da biblioteca Katsuharo Ochi; as obras são procuradas tanto pela colônia japonesa quanto pelos moradores que estudam a língua japonesa.
Em comparação às outras bibliotecas, como a Fundação Japão e da Casa da Cultura Japonesa, localizada dentro da Universidade de São Paulo (USP), a biblioteca do Pinhal possui uma quantidade maior de livros sobre o país nipônico, feito esse que se torna notório, por estar localizada em uma cidade que possui uma média de 30 mil habitantes. Além disso, São Miguel Arcanjo é uma das colônias japonesas mais antigas do país, são aproximadamente 450 famílias japonesas. Porém, tanto Ochi quanto a professora Midori Nishida, que chegou ao Brasil com apenas sete anos, revelam que há décadas a população vem caindo devido à diminuição no número de filhos e da migração dos jovens.
Talvez o maior feito seja que a história da comunidade está fortemente atrelada à história da biblioteca. Mesmo que ocorra esse esvaziamento do campo para cidade, ainda sim, o poder da linguagem permanece fincado em 650 m², numa zona rural do interior de São Paulo, fazendo jus ao lema da placa do senhor Amano, prostrada na entrada da biblioteca: “o povo que esquece da palavra, um dia perderá o seu dinamismo”. Nishida ainda completa: “Ele pensou que, se esquecer da cultura da gente, então se esquece tudo, língua, cultura, tudo. Fica vazio”.
A linguagem é um instrumento fundamental para as relações humanas e o desenvolvimento do ser. Por meio dela, tal qual um espelho, o leitor pode se perceber e questionar sobre suas experiências, suas relações sociais e, principalmente, suas raízes. A biblioteca Jovens do Pinhal e todos que ainda a fazem se manter de pé encontrou nos milhares de livros uma forma de manter viva a cultura e suas especificidades para as gerações vindouras, sempre lendo o mundo e sua própria história sem esquecer da terra natal.
REFERÊNCIAS
BUFON, Marina. Região possui maior biblioteca japonesa do Brasil. Jornal Cruzeiro, 21 de agosto de 2021, Disponível em: https://www.jornalcruzeiro.com.br/suplementos/mix/2021/08/678067-regiao-possui-a-maior-biblioteca-japonesa-do-brasil.html. Acesso em: 27/08/2021.
JUNIOR, Airton Sales. Biblioteca com mais de 70 mil títulos preserva cultura do país sede das Olimpíadas no interior paulista. Portal G1, Globo, 25 de jul. de 2021, Disponível em: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2021/07/25/biblioteca-com-mais-de-70-mil-titulos-preserva-cultura-do-pais-sede-das-olimpiadas-no-interior-paulista.ghtml. Acesso em: 19/08/2021.
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