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NOTÍCIA | Artesão centenário do chapéu cônico mantém tradição milenar no Japão moderno

Curadoria Assuntos do Japão

Tradução por Suéllen Gentil.

A última pessoa do mundo que confecciona chapéus Minachi-gasa celebrou recentemente seu centésimo aniversário, e permanece forte, mantendo acesa a tradição de mil anos a cada novo chapéu.

“Esse trabalho é minha motivação na vida. Eu quero continuar assim enquanto ainda puder me movimentar”, afirma Shiba Yasuo, um morador da cidade de Tanabe, na Prefeitura de Wakayama, que em janeiro completou 100 anos.

Dizem que o Minachi-gasa – chapéu cônico de cerca de 40 centímetros de diâmetro e trançado com tiras de Hinoki, espécie de cipreste oriunda do centro do Japão – é usado pelos peregrinos das antigas rotas sagradas de Kumano Kodo, reconhecidas como Patrimônio Mundial pela UNESCO, desde o final do período Heian (794-1185).

Por ser um chapéu usado por pessoas de todos os níveis sociais, era conhecido como Kisenbo – literalmente “chapéu para nobres e plebeus” – mas, atualmente, recebe o nome de Minachi-gasa devido ao nome do distrito onde é produzido.

A fina e estreita tira de cipreste que serve de material é cuidadosamente modelada por meio de uma plaina especial e em alguns casos também se usa bambu e casca de cerejeira. Além de ser leve e resistente, o cipreste também é impermeável devido ao seu óleo repelir a água da chuva.

“Se você o usar com frequência, ele fica brilhante e ganha um tom verde escuro”, explica Shiba. “Eu sou maravilhado pelas ideias dos povos antigos”, destaca.

Ele começou a confeccionar o Minachi-gasa há 70 anos. Foi nomeado mestre artesão pela Prefeitura de Wakayama em 1979, premiado com a Medalha de Honra de Faixa Amarela pelo imperador em 1985 e recebeu um prêmio cultural da cidade de Tanabe em 2016. O Minachi-gasa foi intitulado artesanato tradicional pela Prefeitura de Wakayama em 1990.

O processo de manufatura consiste em 8 etapas e a espessura das tiras de cipreste, assim como o tipo de trançado, variam de acordo com a parte do chapéu que o material irá compor. “Eu meço a espessura pelo toque. Eu confio nos meus longos anos de experiência”, afirma.

Como cada etapa exige muita dedicação, Shiba não consegue fazer mais do que dois chapéus por dia, nem quando era jovem.

Os chapéus ainda são usados regularmente por contadores(as) de histórias ao longo das rotas de peregrinação de Kumano, assim como por famílias fazendeiras e pescadoras, e são apreciados como peça de decoração nos ambientes.

A proprietária de uma loja de souvenirs no distrito de Hongucho, que vende os chapéus de Shiba, informa que cada um deles custa 8,800 yen (cerca de R$ 440,00), mas que esgotam rapidamente. “Eu estou aguardando uma nova remessa enquanto recebo pedidos de todo o país”, relata.

Em 1960, Shiba se tornou o último artesão de Minachi-gasa. Apesar de ter tido algumas pessoas como aprendizes, nenhuma foi capaz de se manter na profissão do mestre e de dominar todas as facetas do processo artesanal, desde a aquisição de materiais até a fabricação dos componentes e a criação do produto final.

“Eu cheguei até esta idade graças às pessoas ao meu redor. Estive sempre determinado a nunca fazer um chapéu defeituoso. Eu lamento que a tradição se encerrará em mim. Então, quero fazer mais chapéus, mesmo que isso signifique que eu possa apenas deixar um extra.”

Fonte: https://mainichi.jp/english/articles/20210226/p2a/00m/0na/043000c

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